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Tatiana Navega

Algo me falta sinto solidão

Me sinto vazia, mas não leve, pesada pelo eco da minha própria voz. Algo me falta, sinto solidão. Saio em busca de que me preencham, pelas ruas, pelo mundo, pelos corações:


- Você gostaria de morar dentro de mim?


Ninguém aceita, afinal, se tão mal me sinto internamente, por que alguém entraria nessa caverna de dor? Me desespero. Imploro. Obrigo. Tento dominar e manipular, algumas vezes até consigo, mas como a prisão que construo é forjada em fragilidade, em pouco tempo me desmascaram e eu termino perdendo aquilo que enfiei pelo vazio oco do dentro de mim.


Desisto. Por não mais suportar a humilhação da rejeição fico dentro do buraco inabitável que chamo de EU. Em quietude, nesse lugar, não tenho mais o que fazer além de me auto observar. Nada restou além de mim.


Aos poucos meus olhos se acostumam com o que antes, por desespero externo, eu não conseguia ver, o próprio vazio, meu pior pesadelo. Dele eu só tinha rancor! Pois, por direito divino me pertencer, crescia descontroladamente, no intento de me chamar a atenção.


Sem escolha, sem mais distração, resolvo encará-lo para enfim saber o que ele quer. Sua resposta é fria e direta:


- Eu deveria ser a sua primeira opção. Sou eu que guardo seus sentimentos e memórias. Sem mim, o vazio, sua vida interior, você não recolheria existência e não se conectaria com a força da criação.


Eu choro:


- Como pude achar que atrairia o que quero, sem me preocupar com o estado do lugar interno em que o iria armazenar?


Faço um pacto com o vazio:


- Vou te dar amor.


Passo dias deixando-me interiormente recheada de cuidado e instrução.


Sentindo-me bem arrisco a externalizar, passo pelas mesmas ruas, pelo mesmo mundo, pelos mesmos corações, e agora, todo mundo quer me habitar.


Mas ao invés de jogar fora o que dentro de mim construí para deixar caber alguém mais, ofereço companhia, o compartilhar, não a chave do meu vazio precioso, meu templo de auto amor.


Afinal, não foi fácil descobrir que a fórmula da atração é me tornar exatamente aquilo que eu tanto procurava fora de mim.



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