Me sinto vazia, mas não leve, pesada pelo eco da minha própria voz. Algo me falta, sinto solidão. Saio em busca de que me preencham, pelas ruas, pelo mundo, pelos corações:
- Você gostaria de morar dentro de mim?
Ninguém aceita, afinal, se tão mal me sinto internamente, por que alguém entraria nessa caverna de dor? Me desespero. Imploro. Obrigo. Tento dominar e manipular, algumas vezes até consigo, mas como a prisão que construo é forjada em fragilidade, em pouco tempo me desmascaram e eu termino perdendo aquilo que enfiei pelo vazio oco do dentro de mim.
Desisto. Por não mais suportar a humilhação da rejeição fico dentro do buraco inabitável que chamo de EU. Em quietude, nesse lugar, não tenho mais o que fazer além de me auto observar. Nada restou além de mim.
Aos poucos meus olhos se acostumam com o que antes, por desespero externo, eu não conseguia ver, o próprio vazio, meu pior pesadelo. Dele eu só tinha rancor! Pois, por direito divino me pertencer, crescia descontroladamente, no intento de me chamar a atenção.
Sem escolha, sem mais distração, resolvo encará-lo para enfim saber o que ele quer. Sua resposta é fria e direta:
- Eu deveria ser a sua primeira opção. Sou eu que guardo seus sentimentos e memórias. Sem mim, o vazio, sua vida interior, você não recolheria existência e não se conectaria com a força da criação.
Eu choro:
- Como pude achar que atrairia o que quero, sem me preocupar com o estado do lugar interno em que o iria armazenar?
Faço um pacto com o vazio:
- Vou te dar amor.
Passo dias deixando-me interiormente recheada de cuidado e instrução.
Sentindo-me bem arrisco a externalizar, passo pelas mesmas ruas, pelo mesmo mundo, pelos mesmos corações, e agora, todo mundo quer me habitar.
Mas ao invés de jogar fora o que dentro de mim construí para deixar caber alguém mais, ofereço companhia, o compartilhar, não a chave do meu vazio precioso, meu templo de auto amor.
Afinal, não foi fácil descobrir que a fórmula da atração é me tornar exatamente aquilo que eu tanto procurava fora de mim.
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