Algo me prende, não consigo sair do lugar. Sento-me no degrau mais baixo de dentro de mim e olho para o céu, na esperança de encontrar uma solução.
O que vejo me surpreende, são rostos de pessoas que pela vida encontrei. Observo e percebo que cada uma delas representa uma dor. Abro as portas da memória para lembrar das situações que me prenderam a elas na grande teia existencial. Encontro um ponto em comum, em algum momento elas me deixaram, fizeram escolhas diferentes, se afastaram, tiveram que partir.
Meu corpo se encolhe, tentando se esconder da dor e isso faz com que eu volte a ter um tamanho de criança, época onde eu achava que o mundo girava ao meu redor. Desse ponto de vista infantil, sinto raiva. Quem elas pensam que são para me abandonar? Essa raiva se volta contra mim. Ao não entender que cada um é o centro de si, termino achando que a partida delas significa que eu não tenho valor e isso, por muito tempo, me destrói. Como?
A cada abandono, me apaixono.
Afinal, meu cérebro precisa registrar direitinho quem são as pessoas que detém aquilo que eu mais preciso, aprovação. E é por isso que elas estão no céu acima de mim, onde eu mesma as coloquei. São meus deuses de aprovação pessoal e enquanto eles não me quiserem como eu acho que deveriam querer, serão responsáveis pela minha miséria emocional.
Um choro profundo me faz abaixar a cabeça e encostá-la no chão. Dessa posição, abro os olhos e vejo algo que faz a dor desaparecer. Alguém lá de baixo olha para mim implorando por atenção. O quê?! Estou no céu de outro alguém, sou deusa da aprovação de quem um dia abandonei. Me desespero, afinal, sei o que ele está sentindo:
- Ei você. Me desculpa? O abandono que eu te fiz, nada tem a ver com você. Eu não sabia que você se sentiria assim. O seu valor não está nas minhas mãos.
Lá de baixo ele me olha, sorri e se liberta, se desfazendo no tempo prisão da falta de compreensão. Faço o mesmo, olho para cima e digo aos meus deuses de aprovação pessoal:
- Me desculpem por prendê-los aí. Meu valor está em minhas próprias mãos. Podem ir embora.
Eles agradecem, seus olhos se iluminam e, surpresos como eu, olham para cima e libertam seus próprios deuses pessoais.
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