Ciente de que o espaço vai se transformando através do tempo, por esses dias, eu, um pouco perdida, um pouco cansada, duvidando do valor da existência dentro dos cenários aos quais pertenço, resolvo chamar o espírito do tempo para conversar.
Minha ideia é deixar claro para ele ao que eu não pretendo me adaptar.
Para isso, fecho os olhos e canto uma música antiga, uma que já ninguém canta pois é de uma época onde apenas a memória era capaz de gravar, e que, por ele gostar muito, sempre o atrai. Ele, aparece para me escutar:
- Em que posso te ajudar?
- Você pode parar de me prender dentro de situações que eu não gosto, por favor? Quero seguir adiante. Faz esse momento ruim passar?
O espírito do tempo, velho, sempre ocupado em digerir o que a gente vai deixando para trás, amorosamente responde:
- Sim, mas não se esqueça de que eu faço do espaço, a estrada para poder atravessar e, sem alterá-lo, mesmo que eu passe, nada vai mudar, a sensação que você vai ter é a de estar presa em um infinito e repetitivo corredor.
- Sei como é, já sinto isso. Devo chamar o espírito do espaço para conversar?
Ele ri:
- O espírito do espaço?
- É, aquele que enquanto você passa vai transformando, fisicamente, o mundo ao meu redor.
- Minha querida, esse ser que modifica o espaço não é um espírito, diferente de mim, ele é palpável, você pode vê-lo, você pode até mesmo tocá-lo.
- Tá bom. Eu não aguento mais, ele precisa vir me ajudar. Preciso convencê-lo a me arrancar dessa situação. Onde posso encontrá-lo?
- Aqui na minha frente.
- Como assim?
- Ué, quem tem olhos para ver o mundo? Mãos para tocá-lo? Pés para fazê-lo grande ao caminhar? O ser que transforma a realidade concreta enquanto eu passo...
O peso do meu corpo sentado no chão, me faz entender, antes dele finalizar:
- Somos nós, os seres do espaço, alterando o mundo para o tempo passar.
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