Por esses dias, sem ter janela ou paciência para ver o céu, alguém me diz:
- Eu não entendo as fases da lua, não sei o que fazer em cada uma delas.
Eu respondo:
- Sabe sim, mas esqueceu. Senta aqui. Eu vou contar uma história para te fazer relembrar.
Naquele tempo, onde luz artificial era fogueira, chão era terra e o cobertor as estrelas, nós nos orientávamos pelos luminares, sol e lua eram nossos deuses, nossos relógios, nossos calendários, nossos faróis.
Nessa época, em noite de fase nova, quando a lua não estava no céu, sabíamos, pelo costume, que logo ela começaria a aparecer, e que a escuridão, que nos impedia de fazer aventuras noturnas, de sair da toca, da caverna, servia para que ficássemos recolhidas e passeássemos por dentro, percebendo nossas vontades e sonhando com o que faríamos quando as noites voltassem a ter luz.
E quando a lua crescia, a gente dizia:
- Ela está crescendo.
E aqueles planos elaborados dentro de nós eram colocados em ação. Podíamos, por causa da lua cada vez maior, depois das tarefas do dia, dormir mais tarde, conversar mais longo e ir aos poucos conectando os corações para as noites mais luminosas que só de olhar para o céu, sabíamos quando iriam acontecer. Então, como promessa cumprida, a lua enchia, fazendo-nos dizer:
- Ela encheu!
E naquela vida de céu aberto, ninguém dormia, de tanta luz. Despertas, agitadas com a energia da lua cheia, fazíamos festa, fazíamos amor, cantávamos e tocávamos tambor. Eram nossos momentos de encontros, de trocas, de expansão, onde colocávamos a fertilidade de nossos corpos para dançar, onde conseguíamos ir mais longe, pois a noite iluminada nos permitia alcançar, noite adentro, lugares incomuns. Depois de gastar os planos sonhados, chegava o momento de descansar e exaustas, percebíamos que a lua começava a diminuir. E nós dizíamos:
- Ela está minguando.
E nós, nos recolhíamos, cada vez mais cedo, respeitando a volta das noites escuras para que pudéssemos, em quietude, no tempo da lua, sonhar a vida, tudo outra vez.
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