Certa vez, quando eu era criança, minha mãe presenteou a mim e a minha irmã com papéis de carta nos instruindo a levá-los para a escola e a trocá-los com os amiguinhos. No fim da tarde, minha irmã voltou para casa com papéis de cartas maravilhosos trocados com suas amigas, eu, voltei sem nenhum. Minha mãe perguntou o que havia acontecido, expliquei que os havia trocado também:
- Eu dei os papéis de cartas aos meus amigos e quando eles quiserem, me darão outros de volta.
Minha mãe, como boa aquariana, adivinhou, nenhum papel de carta chegou até mim posteriormente, eu os havia distribuído e não trocado como deveria ser. Essa história me marcou muito pois NUNCA a havia entendido até o ano passado, quando algo aconteceu.
Em uma de minhas viagens sozinha, ao andar pelas ruas de uma antiga cidade, uma mulher de aparência mais antiga ainda, me falou:
- Ei menina, tem um pedaço da sua alma arrastando no chão. Não vai pegar?
Eu olhei para ela e para o chão, não vi nada. Ignorei. Insistente, ela continuou:
- Não adianta querer crescer a alma esticando-se demais para agradar os outros, isso te faz sobrar sem sustentação e a sua alma, sobrando, arrasta, e os outros não vendo, pisam, por isso machuca o coração.
Na hora me lembrei da história do papel de carta e perguntei:
- Qual a solução? Parar de ajudar a quem precisa?
- Ajudar, mas quando precisam, não quando você quer comprar amor.
Aquilo para mim foi um golpe, lembrei de milhões e milhões de vezes em que fiquei machucada por não receber de volta a dedicação e o tempo colocado em trabalhos, situações ou relações.
Mas quem havia escolhido estar ali? Nesses casos, eu.
Lembrei de dezenas de amigas que desabafavam, diariamente, sobre o mesmo sentimento. Lembrei de todas nós, refletidas nos olhos daquela mulher. Ela, me vendo perplexa parada no meio da rua se aproximou e disse a frase que realmente mudou a minha vida:
- O Sol não sai de seu caminho para iluminar os outros planetas, mas mesmo assim tem importância e faz um bem sem fim. Saiba brilhar, mas da maneira e dentro dos limites que te fazem bem.
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