Na casa em que ela havia nascido, a tristeza imperava, é que os problemas e traumas eram tantos que, apinhados, tapavam a janela impedindo o sol de entrar. Mas não podendo sentir falta daquilo que ainda não conhecia, para ela, a vida era mesmo assim, feita de caras fechadas iluminadas apenas pela luz azulada da sempre ligada, televisão.
Porém, as coisas mudaram quando ela atingiu a idade de ir para a escola, pois ali, como diferentes máscaras de uma peça de teatro, as caras, expressavam diferentes emoções, e foi então que pela primeira vez ela conheceu os prazeres da felicidade.
Empolgada, voltou para casa transformada! Sua boca, sempre curvada para baixo, havia se invertido em um largo e luminoso sorriso. O que logicamente, incomodou, fazendo-a escutar:
- Aqui dentro não.
Não querendo contrariar, mas já capturada pela alegria que também fazia parte do existir, depois da escola, antes de entrar em casa, ela escondia seu sorriso alegre na mochila, para ninguém reparar. O que deu certo, por um tempo. Porém, um dia, aconteceram coisas tão engraçadas que na hora do jantar o sorriso escondido desatou a rir, alto, sem parar.
Foi horrível. Ela se arrependeu. Tanto que, depois disso passou a recusar, com veemência o que pessoas de bom coração tinham a oferecer:
- Quer um pouco de felicidade?
Ela respondia que não, educadamente. Era perigoso demais.
O tempo passou, a menina cresceu, se afastou daquele lar cheio de dor, mas mesmo assim construiu para si uma vida com janelas tapadas também. Até o dia em foi chamada para cuidar da herança que aquela pessoa tristonha, então falecida, havia deixado para ela.
À casa da infância ela retornou. E organizando os objetos que agora seriam seus, terminou encontrando um pequeno envelope com seu nome. Dentro, estava aquele sorriso risonho, que a havia denunciado no jantar e também um bilhete que instantaneamente colocou-o de volta, em seu lugar:
“Aquela tristeza era só minha. A você, eu imploro, vá ser feliz.”
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